A depressão é um transtorno com alta prevalência, curso crônico e recorrente. Apresenta grande morbidade com impactos significativos na qualidade de vida, na produtividade e na saúde física.

Apesar do grande peso da depressão como problema de saúde pública, esse transtorno ainda é subdiagnosticado e subtratado ou tratado de forma inadequada. Sua etiopatogenia é multifatorial e complexa, mesmo assim, a extensa pesquisa nessa área vem aumentando a compreensão sobre os mecanismos envolvidos nesse processo.

Os pacientes deprimidos apresentam limitação de suas atividades e comprometimento do bem-estar, além de utilizarem mais os serviços de saúde. Levando em conta todos esses fatores, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a depressão um dos transtornos mais debilitantes para os seres humanos.

Entre as principais condições médicas crônicas, apenas as doenças cardíacas isquêmicas graves se comparam à depressão com relação ao grau de incapacidade provocada, ao passo que a depressão causa mais prejuízo no status de saúde quando comparada à angina, artrite asma e ao diabetes melito.

Ademais, em pacientes com outras patologias de base, a depressão está associada a aumento de sintomas físicos, prejuízo na funcionalidade e má adesão ao tratamento. Muitas vezes, a depressão é o fator impeditivo para que pacientes conscientizem-se de suas doenças, tomem corretamente os remédios e compareçam regularmente às consultas.

Em mulheres, a depressão pode ter impacto negativo no desenvolvimento dos filhos e na dinâmica familiar. Em um grande estudo, constatou-se que o tratamento da depressão maior em mães até a remissão foi associado à diminuição de sintomas psiquiátricos e melhora funcional em sua prole. Muitas mães e pacientes grávidas acreditam que o uso de antidepressivos pode ser um exemplo negativo para seus filhos. É dever do psiquiatra assistente explicar a importância do tratamento e o grande impacto positivo que isto pode causar em toda a família. Os dados ajudam a diluir preconceitos enraizados.

A depressão é um transtorno crônico e recorrente. A idade de início dos sintomas costuma ser entre 20 e 30 anos. O risco de recorrência é de cerca de 50% para quem teve um episódio, sobe para 75% para quem teve dois episódios e para 90% para quem teve três ou mais episódios depressivos. Estes índices são menores quando o correto tratamento é instituído. Portanto, quando o psiquiatra insiste no uso da medicação, mesmo em pacientes já recuperados, a justificativa encontra-se nesta alarmante estatística. Muito se fala sobre a hipermedicalização corrente e obviamente esta é uma discussão que devemos abraçar. Entretanto, dados como estes não podem ser ignorados quando se está diante de pessoas e sofrimentos reais, a prática exige este cuidado.

Existem evidências consistentes do envolvimento de mecanismos neuronais, fatores neurotróficos, neuroplasticidade, além de alterações hormonais e inflamatórias na depressão. Ainda que esses mecanismos não estejam completamente elucidados, os tratamentos disponíveis são eficazes para a maior parte dos pacientes.

A depressão maior é mais bem conceitualizada, em termos médicos, como uma síndrome clínica multissistêmica, ou seja, com impactos em diferentes órgãos e tecidos e uma extensa gama de sintomas. Para que se possa fazer seu diagnóstico, alterações em quatro principais domínios devem estar normalmente presentes:

1) Alterações de humor: diminuição do interesse e/ou prazer em todas ou quase todas as atividades pelas quais antes o indivíduo se interessava, sentimento de insuficiência, queda de rendimento físico e mental, entre outros.

2) Alterações psicomotoras: agitação ou retardo psicomotor.

3) Alterações cognitivas: desvalia ou sentimento de falta de valor (como se os pacientes não fossem mais dignos do amor de outras pessoas), desamparo ou sensação de desimportância (sentem-se tratados com frieza pelos demais) e desesperança, com uma sensação que seu futuro será ruim.

4) Alterações neurovegetativas: anorexia e perda de peso ou aumento de apetite e ganho de peso, insônia ou hipersonia e disfunção sexual, geralmente caracterizada pela diminuição da libido.

O manejo da depressão deve começar por um diagnóstico criterioso. Estratégias sistemáticas de tratamento farmacológico, incluindo otimização, potencialização, troca e combinações de antidepressivos, bem como a utilização de tratamentos não farmacológicos (psicoterapia, exercício físico, eletroconvulsoterapia, estimulação magnética transcraniana, entre outros) são capazes de levar a maioria dos pacientes ao controle dos sintomas depressivos e ao retorno a um bom nível de funcionamento.

Após a remissão dos sintomas, é importante lembrar o caráter crônico do transtorno e a necessidade de tratamento de continuação e, quando indicado, a manutenção. Em caso de dúvidas, procure um profissional capacitado. Viver bem pode ser mais acessível e possível do que se acredita.

Dra Fernanda Seixas

Psiquiatra da Clínica CorpoMente

(61) 33632934, contato@corpomente.com.br

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