A origem de todos os transtornos psiquiátricos, há muito, tem sido compreendida como sendo multifatorial, contemplando aspectos biológicos e ambientais. Dessa forma, entender de que maneira a resposta dos indivíduos aos diferentes eventos estressores gera desfechos variados é uma importante área de pesquisa na psiquiatria.

Para a Psicologia, o conceito de resiliência refere-se ao processo que permite retomar algum tipo de desenvolvimento, apesar de traumas ou circuntâncias adversas. É descrita como a possibilidade do indivíduo de enfrentar as adversidades, manter uma capacidade adaptativa, conseguir superá-las ou até ser transformado por elas.

Resiliência é frequentemente referida por mecanismos que explicam a superação. Esses processsos sociais e intrapsíquicos possibilitam o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo que o indivíduo viva em um ambiente não sadio. A resiliência não pode ser pensada como algo que nasce com o sujeito, nem como algo que ele adquire durante o seu desenvolvimento, pois ela não é fixa, e pode variar dependendo do contexto, já que em cada idade somos seres humanos totais que habitam mundos diferentes.

O estudo da resiliência psicológica ou resistência ao estresse começou em 1970, com pesquisadores que direcionaram a atenção para crianças capazes de continuar se desenvolvendo normalmente, apesar das adversidades.

Em meados do século XX, Harry Harlow realizou pesquisas de privação social (isolamento e separação) em primatas, verificando que o estímulo adverso associou-se à incapacidade de brincar, ao receio de explorar o ambiente, à dificuldade de cuidar da prole e à automutilação. Os sintomas eram tão mais graves quanto maior o grau de isolamento.

Um outro pesquisador, Stephen Suomi, pouco tempo depois, demonstrou que macacos isolados podiam ser reabilitados quando postos em contato com macacos que promoviam o contato físico sem agressividade. Nesse experimento, ao final de seis meses, o macaco isolado estava brincando ativamente com os demais, enfatizando a reversibilidade dos déficits sociais e cognitivos precoces.

Dessa maneira, compreendeu-se a importância do suporte social ofericido ao indivíduo traumatizado. Esta atenção é definidora no processo de resiliência. Os chamados tutores da resiliência são pessoas que exercem papel de acolhedor ao traumatizado, estimulando a fala, o enfrentamento e auxiliando na ressignificação da elaboração do trauma. Muitas vezes esta função é exercida pelo profissional de saúde mental, por isso é tão importante vencer os estigmas e facilitar o acesso a este tipo de auxílio.

O sofrimento nunca é desejável porém, isso não significa que, quando ele é inevitável, não possamos usá-lo para progredir no campo humano e espiritual. Como explica o Dalai Lama: “Um sofrimento profundo pode nos abrir o espírito e o coração, e nos abrir para os outros”. O sofrimento, portanto, pode ser, para nós, um ensinamento extraordinário, a ponto de fazer-nos tomar consciência do caráter superficial da maior parte das nossas preocupações habituais, da passagem irreversível do tempo, da nossa própria fragilidade e, acima de tudo, daquilo que conta, real e profundamente, dentro de nós.

Dra Fernanda Seixas

 Psiquiatra da Clínica CorpoMente

(61) 33632934

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