O tratamento das doenças mentais pode ser um tema de grandes controvérsias e falsas premissas.O raciocínio é mais ou menos assim: se as doenças forem consideradas biológicas, os tratamentos serão medicamentos, se forem psicológicas, psicoterapia.
O primeiro problema com essa linha de raciocínio é a sua premissa básica: a dicotmia mente versus cérebro. Porém a distinção mente e cérebro (ou mental versus físico, ou biológico versus psicológico) está muito arraigada. Consequentemente, é provável que não seja suficiente apontar esta falsa dicotomia para dissuadir as pessoas da tolice da distinção entre fármacos e a psicoterapia.
Um segundo problema, em particular, é que esta falsa dicotomia introduz uma simplificação inadequada no cuidado das doenças mentais, que não temos para outras doenças. Se uma pessoa sofre de diabete, não perguntamos: será que essa pessoa deve tomar medicamentos ou deve ser orientada e amparada para menter um estilo de vida saudável? O diabte é tratado com fármacos, mas também com dieta, exercícios e apoio psicológico para as adaptações que são necessárias no estilo de vida.
Existem exemplos intermináveis de terapias combinadas para outras doenças e nem por um só momento levantamos falsos extremismos quando os médicos sugerem combinações de medicamentos e outros tipos de tratamentos. Por que devemos questionar se as doenças mentais devem ser tratadas com medicamentos ou terapia?
Um terceiro problema com essa linha de raciocínio é que ela não reconhece que os fármacos afetam a mente e que a psicoterapia afeta o cérebro. O fato de que os fármacos afetam a mente (assim como o cérebro) é algo que a maioria das pessoas compreende. Se não compreendem, elas têm observações obrigatórias em vidros de remédios de medicamentos para alergia e dor, que afirmam que “estes medicamentos podem ser sedativos”. As funções mentais são reperesentadas pela atenção, excitação, estado de alerta, memória e humor. Fármacos de todos os tipos afetam essas funções.
As drogas ilegais como a maconha e anfetamina são usadas justamente porque afetam as funções mentais de uma maneira que as pessoas consideram interessante. Existem poucas drogas ilegais disponíveis que atuem outras áreas além dessas funções.
Por que, então as pessoas cometem o engano de igualar os fármacos e o cérebro (e não à mente)? Por que continuamos a ter preocupações em relação a tratar doenças mentais com medicações?
O fato de que certas “drogas mentais” serem ilegais e os fármacos vendidos sob prescrição médica, às vezes, serem tomados de forma abusiva provavelmente contribui para o tabu em torno do uso de medicamentos para tratar doenças mentais. De maneira paradoxal, o erro também pode ocorrer porque essas substâncias funcionam bem demais.
Uma das principais realizações dos últimos 50 anos foi o desenvolvimento de medicamentos que são efetivos para reduzir ou eliminar os sintomas de três grandes grupos de doenças mentais: esquizofrenia, transtornos de humor e transtornos de ansiedade. Um masoquismo puritano nos faz sentir que o sofrimento humano não deve ser reduzido de forma tão rápida, pelo menos para as doenças da mente.
Como reverenciamos tanto a mente, temos a sensação de que suas doenças devem ser tratadas com técnicas “mais profundas” como a psicoterapia, que age diretamente sobre a mente e suas funções. Não há nada de errado em usar a psicoterapia para tratar a mente, desde que a utilidade bastante real dos medicamentos não seja desvalorizada.
Muitas pessoas se beneficiam com apoio e orientação das psicoterapias. O probelma não está em usá-la, mas em não reconhecer que os seus efeitos são mentais e físicos. A psicoterapia age sobre a mente e o cérebro. De fato, à medida que entendemos cada vez mais sobre como o cérebro funciona e como ele muda em resposta a experiências, reconhecemos que a efetividade da psicoterapia é ampla e complexa.
As diversas técnicas de psicoterapia agem no cérebro e provocam mudanças no aprendizado, nas maneiras de responder e adaptar-se e isto se traduz em alterações no modo como a pessoa sente, pensa e se comporta. A psicoterapia, às vezes denegrida como apenas falar, é, à sua própria maneira, tão biológica quanto o uso de fármacos.
A questão não é escolher entre remédio ou psicoterapia. O desafio é encontrar o equilíbrio certo entre estas duas modalidades terapêuticas para cada transtorno específico em cada paciente tratado.
Quando medicações e psicoterapia são polarizadas e jogadas umas contra as outras, temos consequencias indesejáveis. Os pacientes enfrentam orientações conflitantes e são deixados em estado de confusão e dúvida. O melhor conselho não é “ou um ou outro”, mas “ou um, ou os dois”, conforme necessário. Seja qual for o tratamento, os mecanismoas mais básicos são os mesmos, ambos afetam as funções da mente, alterando, em consequência, o cérebro.
Dra Fernanda Seixas
Psiquiatra da Clínica CorpoMente
(61) 33632934, contato@corpomente.com.br
That’s a slick answer to a chleglnaing question