Por muitos anos, os conhecimentos convencionais da neurociência sustentavam que o cérebro do mamífero adulto é fixo em dois aspectos: nenhum neurônio novo nasce e as funções das estruturas que o formam são imutáveis, de modo que, se os genes e o desenvolvimento determinam que este feixe de neurônios vai processar sinais a partir do olho, e que este feixe vai mover os dedos da mão direita, então eles vão fazer isso e nada mais, aconteça o que acontecer.
A doutrina do cérebro humano imutável teve profundas ramificações, nenhuma delas muito otimista. Indicou, por exemplo, que tentar alterar a rede patológica de conexões cerebrais que constitui a base de doenças psiquiátricas-tais como o transtorno obsessivo-compulsivo e a depressão- seria um erro tolo. Sugeriu, ainda, que outras condições fixas do cérebro, tais como o “set point” de felicidade a que uma pessoa pode retornar depois de uma grande tragédia ou de uma grande alegria- são completamente inalteráveis.
A boa notícia: o dogma está errado. Nos últimos anos do século XX, alguns neurocientistas desafiaram o paradigma de que o cérebro adulto não muda e fizeram descobertas e mais descobertas de que, ao contrário, ele mantém um impressionante poder de neuroplasticidade.
O cérebro pode, de fato, ter seus circuitos alterados. Pode expandir a área conectada para mexer os dedos, formando novas conexões para sustentar a destreza de um exímio violonista, por exemplo. Pode ativar fios condutores há muito tempo inativos e passar novos cabos, como um eletricista que reforma o sistema elétrico de uma velha casa. Pode silenciar circuitos que antes crepitavam com as atividades aberrantes que caracterizam a depressão e cortar conexões patológicas que mantêm o cérebro no estado de “ó meu deus, há algo errado” que caracteriza o TOC.
Em resumo, o cérebro adulto mantém grande parte da plasticidade do cérebro em desenvolvimento, inclusive o poder de consertar regiões danificadas, de criar novos neurônios, de rearranjar circuitos, entre outros.
Igualmente revolucionária é a descoberta sobre como o cérebro muda. Nossas ações podem literalmente expandir ou contrair diferentes regiões do cérebro, derramar mais fluidos em circuitos silenciosos e reduzir a irrigação em outros mais barulhentos. O cérebro oferece mais área cortical a funções que seu dono usa mais frequentemente e encolhe o espaço destinado a atividades raramente desempenhadas.
Sim, o cérebro pode mudar! Não estático. Não fixo. Sujeito a mudanças contínuas. Adaptável. O processo, entretanto, não é fácil A neuroplasticidade é impossível sem atenção e esforço mental. Para mudar, você tem que querer mudar. Se a vontade surge, o potencial parece imenso.
Está difícil começar? Busque o auxílio de um profissional capacitado, há toda uma nova imensidão a ser explorada e vivenciada.
Dra Fernanda Seixas
Psiquiatra da Clínica CorpoMente
(61) 33632934