A mente é um potencial infinito de sentimentos, sensações e realidades. Esta imensidão pode ser tanto sedutora quanto devastadora. Nos permite vivenciar êxtases e catarses, mas também é sede de experiências sombrias e incapacitantes.

A principal dificuldade em lidar com o sofrimento psíquico reside na invisibilidade de sua dor. Ao deparar-nos com mazelas físicas que saltam aos olhos, a reação instintiva e inicial é transbordar-nos de empatia e compaixão. Em contrapartida, as vivências psíquicas são subjetivas, internas, pouco expressíveis. É difícil compreender e ser compreendido

Um paciente que chega a um consultório psiquiátrico com as queixas mais diversas, desde insônia, ansiedade e tristeza à dores generalizadas, dormências e inquietude, normalmente já passou por diversos especialistas e recebeu inúmeras negativas. “Você não tem nada, seus exames estão ótimos.”

O paradoxo da situação somado com o sofrimento crescente costuma piorar a evolução daqueles que apresentam algum desequilíbrio psíquico. A maioria chega ávido por um exame ou imagem que legitime toda sua dor e penar.

 Pois bem, é deste contexto que retiro a primeira lei da prática psiquiátrica: quaisquer que sejam seus sintomas, anseios e angústias, na vivência mental está tudo legitimado. Exames, nestes casos, são complementares. Se há incapacitação e dor há demanda. E esta demanda deverá ser acolhida e tratada da forma mais respeitosa. Não é preciso ser visível, palpável, concreto.

O foco deverá ser sempre o bem-estar. Se você está triste, apático, isto já é o bastante para travarmos uma longa conversa. Sua tristeza pode ser secundária à um distúrbio tiroideano, à uma vivência reativa atual, à uma depressão antiga, à algum outro fator clínico… A investigação é nossa tarefa. Cabe ao paciente ser honesto consigo mesmo e com seus sentimentos.

Em uma sociedade tão visual e concreta, sofrer em silêncio e sem ser percebido pode ser fatal. Na Psiquiatria, qualquer dor é real. O invisível também é legítimo.

Dra Fernanda Seixas

 Psiquiatra da Clínica CorpoMente

(61) 33632934

2 thoughts on “A dor da Invisibilidade

  1. excelente essa dissertação sobre o invisível, não sou médico nem especialista na área simplesmente um sofredor dessa opressão q ninguém ver só agente q sente… é incrível a veracidade dessas situações, parece q vc não existe apenas o mundo ao seu redor, a dor e o vazio incomensurável…. só quem sente sabe….

  2. Oi Nelson, fico feliz que o texto tenha te tocado de alguma forma… Sei bem como é sofrer sem ser notado. É por essas e outras que me entrego plenamente ao trabalho de zelar pela saúde mental das pessoas. Precisamos conversar mais sobre o abstrato, o que não tem nome ou forma… Muito obrigada pelo feedback, este tipo de mensagem me dá força e determinação para continuar! Um grande abraço

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