As mulheres têm duas vezes mais chances de apresentar transtornos afetivos em comparação com os homens e o pico de incidência desses transtornos ocorre durante o período reprodutivo, entre as idades de 25 e 44 anos. O pós-parto tem sido claramente definido como a fase de maior vulnerabilidade para o aparecimento de transtornos psiquiátricos graves nas mulheres. Durante este período, cerca de 85% das puérperas experimentam, pelo menos, alguma forma de alteração do humor. A maioria delas apresenta sintomas relativamente leves e transitórios, conhecidos como maternity blues ou disforia puerperal.
Contudo, de acordo com estudos internacionais, aproximadamente de 10 a 15% das mulheres podem experimentar uma forma mais incapacitante e persistente de distúrbio psíquico, como a depressão pós-parto (DPP). O puerpério também tem sido apontado por alguns pesquisadores como o período de maior vulnerabilidade para o aparecimento de novos episódios do transtorno bipolar. Sugere-se, inclusive, que um episódio depressivo que apareça no pós-parto tem uma chance maior de ser proveniente de um quadro bipolar ainda não diagnosticado. Portanto, todos os casos devem ser individualmente e cuidadosamente considerados.
O puerpério (período que sucede ao parto) é definido em pós-parto imediato (do primeiro ao décimo dia após o parto), pós-parto tardio (do décimo ao quadragésimo quinto dia) e pós-parto remoto (além do quadragésimo quinto dia). Alguns estudos têm demonstrado que desregulações hormonais podem representar parte da patogênese dos transtornos do humor no período perinatal em mulheres suscetíveis.
Enquanto há oscilações hormonais e modificações físicas no intuito de restabelecer as condições pré-gravídicas, as transformações psicossociais vão exigir da mulher certa capacidade de adaptação a condições bem diversas daquelas anteriores à gravidez. Novas funções da mulher, agora no papel de mãe, presença de mais familiares em casa, mudanças na dinâmica do casal, eventuais dificuldades com a amamentação e com a rotina de sono, além de interferência na vida profissional, são novos fatores que demandarão ajustamentos.
Na década de 1960, pesquisadores descreveram uma condição chamada disforia puerperal. Eles observaram que, após alguns dias do parto, grande parte das mulheres apresentava choro com facilidade e que esse choro não tinha relação com sofrimento ou tristeza. Notaram que essas mulheres apresentavam empatia exacerbada e ficavam com sensibilidade excessiva à rejeição.
A disforia puerperal é considerada a forma mais leve dos quadros puerperais e pode ser identificada em 50 a 85% das puerpéras, dependendo dos critérios diagnósticos utilizados. Os sintomas geralmente têm início nos primeiros dias após o nascimento do bebê, atingem um pico no quarto ou quinto dia do pós-parto e remitem de forma espontânea em, no máximo, duas semanas. O quadro inclui choro fácil, labilidade afetiva, irritabilidade e comportamento hostil para com familiares e acompanhantes. Mulheres com disforia pós-parto não necessitam de intervenção farmacológica. A abordagem é feita no sentido de manter suporte emocional adequado, compreensão e auxílio nos cuidados com o bebê.
Já a depressão pós-parto costuma ter início entre duas semanas até três meses após o parto. Os sintomas incluem perda de prazer e interesse nas atividades, alteração de peso e/ou apetite, alteração do sono, agitação ou retardo psicomotor, sensação de fadiga, sentimento de inutilidade ou culpa, dificuldade para se concentrar ou tomar decisões e até pensamentos de morte ou suicídio. No quadro clínico da depressão, nessa época da vida, são observadas algumas peculiaridades, dentre elas a alta probabilidade de associação com sintomas ansiosos, obsessivo-compulsivos, a menor incidência de suicídio e a resposta terapêutica mais demorada e que requer, geralmente, mais de uma medicação.
A depressão bipolar deve ser suspeitada quando o quadro depressivo inicia antes de duas semanas do pós-parto, quando predominam hipersonia, hiperfagia (aumento do apetite), lentificação psicomomotora, quando há história familiar de transtorno bipolar e quando não há resposta com antidepressivos.
O auxílio profissional adequado, preciso e rápido pode fazer uma grande diferença na evolução destes quadros depressivos. Desfrute plenamente da maternidade e enfrente os desafios inerentes à esta experiência sagrada. Os benefícios serão compensadores.
Dra Fernanda Seixas
Médica Psiquiatra da CorpoMente
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