Historicamente, sintomas devidos a eventos traumáticos agudos referiam-se, em geral, apenas a situações com sobreviventes de guerra. Mais recentemente, o conceito foi ampliado para qualquer evento traumático sentido como suficientemente importante pelo indivíduo. Além disso, é importante não apenas o diagnóstico tardio de transtorno de estresse pós traumático (TEPT), mas também a ênfase na sua prevenção por meio do diagnóstico precoce do transtorno de estresse agudo (TEA).
Estudos recentessugerem altas taxas de prevalência do TEA (em torno de 17% da população). Tanto eventos catastróficos (atentados terroristas, enchentes e deslizamentos de terra), quanto violência urbana cotidiana parecem predispor ao TEA e ao TEPT.
Atualmente, considera-se que os maiores causadores de transtornos psiquiátricos ligados ao trauma são os eventos civis diários, como acidentes de trânsito, assaltos à mão armada, sequestros e violência física e sexual. Esses transtornos, associados a situações traumáticas, também podem ser consequência de uma doença grave aguda, como, por exemplo, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral.
A resposta emocional e comportamental após um evento traumático ocorre em quatro fases. A primeira fase, imediatamente após um evento agudo, é acompanhada de emoções intensas, incluindo sentimentos de incredulidade, medo e confusão mental. Tais respostas correspondem a um comportamento normal frente a um evento extraordinário.
A segunda fase ocorre ainda na primeira semana e se prolonga até o final do primeiro mês. Sintomas intrusivos (lembranças do trauma, flashbacks ou pesadelos), bem como hipervigilância surgem nessa fase. Sintomas somáticos como fadiga, cefaleia, tontura, náusea, associados à raiva, irritabilidade e ao isolamento social também podem fazer parte das reações desencadeadas pelo trauma. Esse é o período de surgimento dos sintomas relativos ao TEA, e as vítimas que apresentam tais manifestações devem ser monitoradas de perto, em função do risco de desenvolvimento de TEPT, caso os sintomas persistam.
As outras duas fases correspondem à aceitação e à resolução do trauma, quando os indivíduos buscam reconstruir suas vidas e recuperar sua identidade, retornando ao trabalho e à rotina pessoal.
Os suportes físico e psíquico precoces, realizados preferencialmente, por profissionais capacitados para lidar com pacientes expostos a eventos traumáticos são as principais estratégias de manejo do TEA.
A identificação dos indivíduos vulneráveis, por meio de avaliação de fatores de risco pré-trauma (histórico de doença psiquiátrica, exposição prévia a eventos traumáticos) e pós trauma (por exemplo, surgimento de sintomas dissociativos) permite uma intervenção durante o período chamado “golden hours’ (seis primeiras horas após o estressor). Existe uma hipótese de que, durante este período, a neuroplasticidade cerebral estaria aumentada e, portanto, passível de mudanças que poderiam efetivamente prevenir o desenvolvimento de um transtorno de estresse relacionado ao trauma. Dessa forma, a ação durante esse período sensível é bastante importante.
É comum o uso indiscriminado de benzodiazepínicos (rivotril, diazepam, alprazolam) na primeira fase do trauma, com o objetivo de aliviar sentimentos de horror e medo associados à exposição a um evento traumático. Sabe-se que estas medicações inibem a resposta normal do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, reduzindo assim, a liberação de glicocorticoides que são ferramentas importantes na adaptação ao estresse. O uso destes medicamentos, a curto prazo, é considerado concebível e racional, principalmente pelo seu efeito ansiolítico imediato. Entretanto, o uso a longo prazo pode aumentar o risco do desenvolvimento de um TEPT.
As principais medicações utilizadas no tratamento destes transtornos são o prorpanolol, hidrocotisona e inibidores seletivos da recaptação da serotonina. A terapia cognitivo comportamental traumo-focada, terapia de apoio, manejo de estresse, terapia de grupo e psicoterapia psicodinâmica breve também são altamente efetivas.
Portanto, o entendimento e auxílio adequados diante de situações traumáticas extremas podem fazer toda a diferença na evolução subsequente de quadros reativos. Por isso, não hesite em procurar uma equipe de profissionais capacitados. É muito melhor prevenir do que remediar!
Dra Fernanda Seixas
Médica Psiquiatra da CorpoMente
(61) 33632934